domingo, abril 19, 2015

[CRÔNICA] O Lar dos Moinhos de Palha


20|04|15 · Divertido pensar como e no quanto afetamos a vida das pessoas, mesmo inconscientemente. Sei da pretensão que é refletir sobre isso sob uma perspectiva tão aleatória, mas, ainda assim, não deixa de ser interessante.

O metrô é um eficiente ecossistema para usar como exemplo, ao ponto de ter me perdido entre as (ironicamente, poucas) linhas que percorre. O terminal Estácio, o qual sempre utilizo para fazer a transferência de uma via para outra, tinha as saídas fechadas - no caso, todas as que eu poderia pegar. Olhar de um lado para o outro não ajudou muito, a plataforma solitária esticava-se com moinhos de palha imaginários rolando de um lado ao outro. Na minha cabeça, eram em pares. Eu, no entanto, estava sozinho.

Decidi subir as escadas distantes e procurar algum guarda (me questionando mentalmente o porquê de não haver nenhum ali) quando duas mulheres, vindo no sentido contrário, me abordaram. Rindo do próprio infortúnio em uma cumplicidade própria, estavam na mesma situação que eu: perdidas. É curioso que, em meio a não saber onde estamos, ainda podemos ser encontrados quando menos esperamos.

Mal me dei conta do acordo implícito. Elas me seguiram para a escadaria, e dali até um grupo de seguranças que nos informou o caminho de estações a ser tomado. Reparei que eles também estavam rindo entre si antes de chegarmos, uma provável piada esquecida no ar logo após me ajudarem. Que eles me desculpem por isso.

Desci para a outra plataforma (a certa dessa vez) e vi que as duas moças me seguiam mais distantes, agora mais tranquilas pela direção teoricamente correta dada pela autoridade em questão. Eu já me fazia passado, havia as afetado da maneira que esperavam de mim, tchau e bênção.

Os vagões amanteigam-se pelos trilhos e leio meu destino no letreiro ao lado. A satisfação de enfim poder voltar para casa me inundava de alívio. No lugar dos moinhos, passageiros e suas rotinas me circundavam. Entre eles, as mesmas mulheres surgiram ao meu lado, a velocidade dos trens a centímetros de nós esvoaçando seus cabelos e encolhendo meus olhos detrás dos óculos.

"Tem certeza que é esse?", me perguntou uma delas, indicando o metrô que freava sem parcimônia. 
Sorri de volta, mais para mim do que a qualquer um naquele lar de moinhos de palha.

"Tenho sim."


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